Paris, 1863
O dever é
a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, e depois para com os outros. O
dever é a lei da vida: encontramo-lo nos mínimos detalhes, como nos atos mais
elevados. Quero falar aqui somente do dever moral, e não do que se refere às
profissões.
Na ordem dos sentimentos, o dever
é muito difícil de ser cumprido, porque se encontra em antagonismo com as
seduções do interesse e do coração. Suas vitórias não têm testemunhas, e suas
derrotas não sofrem repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu
livre arbítrio: o aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior,
o adverte e sustenta, mas ele se mostra frequentemente impotente diante dos
sofismas da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem. Mas
como precisar esse dever? Onde ele começa? Onde acaba? O dever começa
precisamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso
próximo, e termina no limite que não desejaríeis ver transposto em relação a
vós mesmos.
Deus criou todos os homens iguais
para a dor; pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelos
mesmos motivos, a fim de que cada um pese judiciosamente o mal que pode fazer.
Não existe o mesmo critério para o bem, que é infinitamente mais variado nas
suas expressões. A igualdade em relação à dor é uma sublime previsão de
Deus, que quer que os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não
cometam o mal desculpando-se com a ignorância dos seus efeitos.
O dever é o resumo prático de
todas as especulações morais. É uma intrepidez da alma, que enfrenta as
angústias da luta. É austero e dócil, pronto a dobrar-se às mais diversas
complicações, mas permanecendo inflexível diante de suas tentações. O homem
que cumpre o seu dever ama a Deus mais que as criaturas, e as criaturas mais
que a si mesmo; é a um só tempo, juiz e escravo na sua própria causa.
O dever é o mais belo galardão da
razão; ele nasce dela, como o filho nasce da mãe. O homem deve amar o dever,
não porque ele o preserve dos males da vida, aos quais, a humanidade não pode
subtrair-se, mas porque ele transmite à alma o vigor necessário ao seu
desenvolvimento.
O dever
se engrandece e esplende, sob uma forma sempre mais elevada, em cada uma das
etapas superiores da humanidade. A obrigação moral da criatura para com Deus
jamais cessa, porque ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um
esboço imperfeito, mas deseja que a grandeza da sua obra resplandeça aos seus
olhos.
Texto extraido do Evangeho Segundo o Espíritismo
Cap. XVII
Editora: IDEA
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