enviada por Antônio Sávio de Resende
O assunto, no entanto, me fez lembrar uma
história, aliás, repetida por vários cronistas, interessados nas tradições
populares.
Dou-lhe esta explicação para que você não me
considere plagiário com adjetivos jocosos e zombeteiros.
Conta-se que Jesus, acompanhado por alguns
discípulos, seguia, dos arredores de Jerusalém, demandando a cidade de Jericó. O
Mestre alterara o plano da excursão, através de muitas veredas, a fim de
visitar necessitados e doentes.
Em dado instante, o grupo não soube acertar
com o verdadeiro caminho e apareceu acalorada troca de opiniões.
Nisso, salientou-se, não longe, a figura de
um viandante cuja presença pareceu providencial aos companheiros da Boa Nova. Notando
que o desconhecido se abeirava dos circunstantes, Simão Pedro barrou-lhe a
frente e interpelou-o:- "Amigo, acaso poderá a sua bondade informar-nos
quanto ao exato caminho para Jericó"?
O desconhecido trancou a face que lhe
evidenciava o descontentamento e replicou em seguida:- "Quem lhe falou que
sou guia de vagabundos? Tenho mais que fazer. Não me arrisco a contato com
malfeitores e ladrões. Sigam para onde quiserem...".
Dito isso, afastou-se, estugando o passo e
Pedro, desapontado, dirigiu-se a Jesus, comentando:- "Mestre, viu só que
insolência? Não é justo suportar desaforos! Decerto que o Céu castigará esses
brutamontes, impondo-lhe a punição que faz por merecer..."
O Cristo ouviu apreensivo, e ponderou:-
"Pedro, não julgue ninguém sem o conhecimento preciso... Quem será esse
homem? Talvez seja um doente ou um desesperado...".
A expectativa se reapossava dos apóstolos,
quando surgiu, à frente deles, bela jovem carregando um cântaro de água na
cabeça. Simão Pedro adiantou-se, interpelou-a repetindo a petição que fizera ao
viandante agressivo e exasperado.
- "O melhor caminho para Jericó?" –
indagou a moça sorrindo. De imediato, depôs no chão o vaso que trazia e passou
a explicar com gentileza de que modo atingiriam a cidade sem obstáculos
maiores. Além disso, encorajou os apóstolos à caminhada, com expressões de
encantador otimismo.
Terminado o diálogo, foi retomando o vaso
transbordante de água límpida, seguindo estrada afora...
Simão Pedro aconchegou-se a Jesus e lhe falou
com intimidade: "Mestre, notou a diferença? O bruto que nos desconsiderou
e, essa menina generosa se parece a um animal e a uma flor...".
Ante o Senhor, que se fizera pensativo, Pedro
insistiu:- "Senhor, qual será a recompensa que o Céu concederá a essa
jovem que nos prestou um serviço tão grande"?
Jesus sorriu e falou ao apóstolo em voz
alta:- "Sim, Pedro, essa jovem será recompensada; e o prêmio dela será
casar-se com o homem brutalizado que passou por aqui, a fim de que consiga educá-lo
para Deus e para a vida".
Surpresa geral encerrou o assunto.
É isso aí, meu caro. Se a mulher nos
abandonar à própria sorte, negando-se a cumprir a missão que o Céu lhe
atribuiu, com certeza, nós todos, os homens vinculados ainda a Terra, estaremos
perdidos...
Pelo Espírito Augusto Cezar. Psicografia de Francisco Cândido
Xavier.
Livro: Fotos da Vida.
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