domingo, 24 de fevereiro de 2013

AUTOCONTROLE E ALTERIDADE


“Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil.”

Aristóteles, Ética a Nicômaco.
 
             Os dias passam, as horas seguem, mas os comportamentos distorcidos perduram ao tempo. Muito embora sejamos convidados à mudança, apresentamos enorme dificuldade em estabelecermos relações sociais qualitativas. Escravos da paixão, construímos uma sociedade onde a desestruturação da civilidade e do bom senso obedece a uma onda de impulsos mesquinhos e egocêntricos. Tais emoções vagueiam à toa e de forma desenfreada, colecionando dissabores e antipatias por onde passam.

Conter as emoções destrutivas, segurar sentimentos desequilibrados e racionalizar tudo aquilo que nos chega, parece não mais fazer parte de nosso comportamento. Há quem defenda, inclusive, que o correto é colocar para fora tudo aquilo que habita no mundo íntimo e não guardarmos atitudes de afronta em nossa casa psíquica. Com esse desequilíbrio mental constante, aumentando a desordem, gerando descontrole e estresse social, a máxima aristotélica, acima mencionada, torna-se um desafio quase que impraticável.

Impulsos são dínamos geradores de emoções, que por sua vez transformam-se em sentimentos. Estes, quando bem racionalizados, poderão nos conduzir ao campo fértil das ações serenas e equilibradas. Se introjetarmos o autocontrole e aplicarmos a alteridade nas relações humanas, criaremos um diálogo harmônico possível entre os seres. Autocontrole é a capacidade de gerenciarmos nossas emoções e desejos. Já a alteridade, é a visão de que todo o homem social interage e interdepende do outro, reforçando, deste modo, a virtude que estimula o mecanismo de devoção e respeito para com o semelhante.

De posse do autocontrole conseguiremos depreender todos os dispositivos de fuga que utilizamos e assim, poderemos mapear nosso próprio comportamento.Portadores dessas informações e munidos do respeito ativado pela alteridade, compreenderemos que temperamento é algo mutável e que, embora os sentimentos não sejam passíveis de controle,os comportamentos são. Para isso, é imprescindível nossa adaptabilidade ao processo de aprendizado.

Chegarmos à maturidade sem dominarmos o campo emocional é o mesmo que entrarmos no mar sem sabermos nadar. Naufragados em nossas próprias escolhas impensadas, perceberemos que envelhecemos por fora, mas sucumbimos por dentro.

A solução para essa diáspora emocional desenfreada é a construção de novos hábitos honrosos e a desconstrução de estereótipos e vícios. Isto posto, mais conscientes de nosso papel social e portadores de uma aptidão fundamental pautada na virtude, conseguiremos promover a alfabetização emocional do ser, inaugurando, consequentemente, tempos áureos para a civilização humana.


Mário Portela

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