“Qualquer um pode zangar-se
– isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora
certa, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil.”
Aristóteles, Ética a Nicômaco.
Os dias passam, as horas
seguem, mas os comportamentos distorcidos perduram ao tempo. Muito embora
sejamos convidados à mudança, apresentamos enorme dificuldade em estabelecermos
relações sociais qualitativas. Escravos da paixão, construímos uma sociedade onde
a desestruturação da civilidade e do bom senso obedece a uma onda de impulsos
mesquinhos e egocêntricos. Tais emoções vagueiam à toa e de forma desenfreada,
colecionando dissabores e antipatias por onde passam.
Conter as emoções
destrutivas, segurar sentimentos desequilibrados e racionalizar tudo aquilo que
nos chega, parece não mais fazer parte de nosso comportamento. Há quem defenda,
inclusive, que o correto é colocar para fora tudo aquilo que habita no mundo
íntimo e não guardarmos atitudes de afronta em nossa casa psíquica. Com esse
desequilíbrio mental constante, aumentando a desordem, gerando descontrole e
estresse social, a máxima aristotélica, acima mencionada, torna-se um desafio
quase que impraticável.
Impulsos são dínamos
geradores de emoções, que por sua vez transformam-se em sentimentos. Estes,
quando bem racionalizados, poderão nos conduzir ao campo fértil das ações
serenas e equilibradas. Se introjetarmos o autocontrole e aplicarmos a
alteridade nas relações humanas, criaremos um diálogo harmônico possível entre
os seres. Autocontrole é a capacidade de gerenciarmos nossas emoções e desejos.
Já a alteridade, é a visão de que todo o homem social interage e interdepende
do outro, reforçando, deste modo, a virtude que estimula o mecanismo de devoção
e respeito para com o semelhante.
De posse do autocontrole
conseguiremos depreender todos os dispositivos de fuga que utilizamos e assim,
poderemos mapear nosso próprio comportamento.Portadores dessas informações e
munidos do respeito ativado pela alteridade, compreenderemos que temperamento é
algo mutável e que, embora os sentimentos não sejam passíveis de controle,os
comportamentos são. Para isso, é imprescindível nossa adaptabilidade ao
processo de aprendizado.
Chegarmos à maturidade sem
dominarmos o campo emocional é o mesmo que entrarmos no mar sem sabermos nadar.
Naufragados em nossas próprias escolhas impensadas, perceberemos que
envelhecemos por fora, mas sucumbimos por dentro.
A solução para essa diáspora
emocional desenfreada é a construção de novos hábitos honrosos e a
desconstrução de estereótipos e vícios. Isto posto, mais conscientes de nosso
papel social e portadores de uma aptidão fundamental pautada na virtude,
conseguiremos promover a alfabetização emocional do ser, inaugurando, consequentemente,
tempos áureos para a civilização humana.
Mário
Portela
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