Os
Espíritos tutelares encontram-se em todas as esferas. Os anjos da sublime
vigilância, analisados em sua excelsitude divina, seguem-nos a longa estrada
evolutiva. Desvelam-se por nós, dentro das Leis que nos regem, todavia, não
podemos esquecer que nos movimentamos todos em círculos multidimensionais. A
cadeia de ascensão do espírito vai da intimidade do abismo à suprema glória
celeste.
Será justo lembrar que estamos plasmando nossa individualidade imperecível no
espaço e no tempo, ao preço de continuadas e difíceis experiências. A idéia de
um ente divinizado e perfeito, invariavelmente ao nosso lado, ao dispor de
nossos caprichos ou ao sabor de nossas dívidas, não concorda com a Justiça.
Que governo terrestre destacaria um de seus ministros mais sábios e especializados
na garantia do bem de todos para colar-se, indefinidamente, ao destino de um só
homem, quase sempre renitente cultor de complicados enigmas e necessitado, por
isso mesmo, das mais severas lições da vida? Porque haveria de obrigar-se um
arcanjo a descer da Luz Eterna para seguir, passo a passo, um homem
deliberadamente egoísta ou preguiçoso? Tudo exige lógica, bom-senso.
Anjo, segundo a acepção justa do termo, é mensageiro. Ora, há mensageiros de
todas as condições e de todas as procedências e, por isso, a antigüidade sempre
admitiu a existência de anjos bons e anjos maus.
Anjo de guarda, desde as concepções religiosas mais antigas, é uma expressão
que define o Espírito celeste que vigia a criatura em nome de Deus ou pessoa
que se devota infinitamente a outra, ajudando-a e defendendo-a.
Em qualquer região, convivem conosco os Espíritos familiares de nossa vida e
de nossa luta. Dos seres mais embrutecidos aos mais sublimados, temos a
corrente de amor, cujos elos podemos simbolizar nas almas que se querem ou que
se afinam umas com as outras, dentro da infinita gradação do progresso. A
família espiritual é uma constelação de Inteligências, cujos membros estão na
Terra e nos Céus. Aquele que já pode ver mais um pouco auxilia a visão daquele
que ainda se encontra em luta por desvencilhar-se da própria cegueira. Todos
nós, por mais baixo nos revelemos na escala da evolução, possuímos, não longe
de nós, alguém que nos ama a impelir-nos para a elevação. Isso podemos
verificar nos círculos da matéria mais densa. Temos constantemente corações que
nos devotam estima e se consagram ao nosso bem. De todas as afeições
terrestres, salientemos, para exemplificar, a devoção das mães. O espírito
maternal é uma espécie de anjo ou mensageiro, embora muita vez circunscrito ao
cárcere de férreo egoísmo, na custódia dos filhos. Além das mães, cujo amor
padece muitas deficiências, quando confrontado com os princípios essenciais da
fraternidade e da justiça, temos afetos e simpatias dos mais envolventes,
capazes dos mais altos sacrifícios por nós, não obstante condicionados a
objetivos por vezes egoísticos. Não podemos olvidar, porém, que o admirável
altruísmo de amanhã começa na afetividade estreita de hoje, como a árvore parte
do embrião.
Todas as criaturas, individualmente, contam com louváveis devotamentos de
entidades afins que se lhes afeiçoam. A orfandade real não existe. Em nome do
Amor, todas as almas recebem assistência onde quer que se encontrem.
Irmãos mais velhos ajudam os mais novos. Mestres inspiram discípulos. Pais
socorrem os filhos. Amigos ligam-se a amigos. Companheiros auxiliam
companheiros.
Isso ocorre em todos os planos da Natureza e, fatalmente, na Terra, entre os
que ainda vivem na carne e os que já atravessaram o escuro passadiço da morte.
Os gregos sabiam disso e recorriam aos seus gênios invisíveis. Os romanos
compreendiam essa verdade e cultuavam os numes domésticos.
O gênio guardião será sempre um Espírito benfazejo para o protegido, mas é
imperioso anotar que os laços afetivos, em torno de nós, ainda se encontram em
marcha ascendente para mais altos níveis da vida. Com toda a veneração que lhes
devemos, importa reconhecer, nos Espíritos familiares que nos protegem, grandes
e respeitáveis heróis do bem, mas ainda singularmente distanciados da angelitude
eterna.
Naturalmente, avançam em linhas enobrecidas, em planos elevados, todavia, ainda
sentem inclinações e paixões particulares, no rumo da universalização de
sentimentos. Por esse motivo, com muita propriedade, nas diversas escolas
religiosas, escutamos a intuição popular asseverando: - “nossos anjos de
guarda não combinam entre si”, ou, ainda, “façamos uma oração aos anjos
de guarda”, reconhecendo-se, instintivamente, que os gênios familiares de
nossa intimidade ainda se encontram no campo de afinidades específicas, e
precisam, por vezes, de apelos à natureza superior para atenderem a esse ou
àquele gênero de serviço.
Texto retirado do
livro “Entre a Terra e o Céu” (André
Luiz / Chico Xavier)
Cap. 33 - (Aprendizado)