O eminente e culto professor
Hippolyte Léon Denizard Rivail, o nosso Allan Kardec, em comentário pessoal
sobre a questão 202 de O Livro dos Espíritos, a obra fundamental do
Espiritismo, afirmou que: “Os Espíritos encarnam como homens ou como
mulheres, porque não têm sexo. Visto que lhes cumpre progredir em tudo, cada
sexo, como cada posição social, lhes proporciona provações e deveres especiais
e, com isso, ensejo de ganharem experiência. Aquele que só como homem
encarnasse só saberia o que sabem os homens” (75ª edição FEB, 1994,
página 135).
Com isso, não deixou margem a
qualquer dúvida quanto à necessidade de o Espírito encarnar ora em corpo
masculino, ora em corpo feminino, diante das provas pelas quais tem de passar,
uma vez que precisa progredir em tudo, razão pela qual a aquisição da
experiência em cada novo corpo físico é de considerável importância.
Reencarnar, como se sabe, literalmente significa entrar de novo na carne.
Nada obstante ser indiscutível a
indispensabilidade de o Espírito estagiar ora em corpo feminil, ora em corpo
masculino, com a importante finalidade de avançar na senda do progresso rumo a
Deus, cumpre não perder de vista o especial papel do Espírito encarnado
como mulher, tal como o registrou Léon Denis: “O papel da mulher é
imenso na vida dos povos. Irmã, esposa ou mãe, é a grande consoladora e a
carinhosa conselheira. Pelo filho é seu o porvir e prepara o homem futuro. Por
isso, as sociedades que a deprimem, deprimem-se a si mesmas. A mulher
respeitada, honrada, de entendimento esclarecido, é que faz a família forte e a
sociedade grande, moral, unida! (O Problema do Ser, do Destino e da
Dor, 23ª edição FEB, 2000, página 178).
Neste passo é importante comparar o
texto acima reproduzido com a pergunta 821 de O Livro dos Espíritos: “As
funções a que a mulher é destinada pela Natureza terão importância tão grande
quanto as deferidas ao homem?” E a sua resposta: “Sim, maior
até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida”.
Por outra parte, parece não haver
dúvida que tanto a maternidade quanto a paternidade constituem verdadeira
missão, no mínimo porque estão os pais incumbidos inerentemente de formar o
caráter dos seus filhos.
Entretanto, não podemos esquecer que
à mulher incumbe a realização de tarefas deveras especiais, a começar pela
educação de seus filhos, geralmente em parcela maior de tempo – para dizer o
mínimo. E como já sabemos, com a veneranda Doutrina Espírita, educação
é o conjunto dos hábitos adquiridos.
Vale recordar que muitos anos atrás,
pelo menos em Curitiba, a cidade onde vivemos, na esmagadora maioria dos casos,
à mulher cabia cuidar de seus filhos. Ao homem competia, com o seu trabalho
fora de casa, obter recursos suficientes para prover a família. Claro que à
mulher restava ainda o ônus de se desincumbir de todos os demais afazeres
domésticos.
O seu papel era imenso, portanto, e
enorme a sua responsabilidade, haja em vista que a ela cabia preparar o
homem futuro (seu filho ou seus filhos, no sentido de seres humanos
encarnados – homens ou mulheres).
Apesar disso, nem sempre o gigantesco
trabalho de que a mulher era encarregada foi devidamente valorizado por
terceiros. No entanto, não tem maior importância esta ausência de
reconhecimento porquanto “A grandeza não consiste em receber honras,
mas em merecê-las” (frase extraída de texto atribuído ao filósofo
grego Aristóteles – 360 anos antes de Cristo).
Os tempos mudaram, os costumes em
parte também, e as necessidades aumentaram, ao que se vê, aparentemente, por
obra do próprio ser humano encarnado na Terra, que passou a criar outras
necessidades, talvez em certa medida decorrentes de excelente publicidade
veiculada diariamente, que tantas vezes faz com que a pessoa menos atenta ou
menos reflexiva compre o que não precisa com o dinheiro que não tem.
Seja como for, houve mudanças.
As mulheres, em considerável número,
passaram a trabalhar dentro e fora de casa, em jornada dupla, com ônus dobrado
a toda evidência.
Nem por isso, no entanto, ficaram
liberadas de seu compromisso maior: preparar o homem (ser humano) futuro,
sobretudo se se considerar que “Deus apropriou a organização de cada
ser às funções que lhe cumpre desempenhar. Tendo dado à mulher menor força física,
deu-lhe ao mesmo tempo maior sensibilidade, em relação com a delicadeza das
funções maternais e com a fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados” (comentário
pessoal de Allan Kardec sobre a questão 820 de O Livro dos Espíritos,
edição citada, páginas 380 e 381).
Com efeito, como bem esclarecido na
obra fundamental do Espiritismo: “Os direitos de homens e mulheres são
iguais, as funções não. A emancipação da mulher acompanha o progresso da
civilização. Sua escravização marcha de par com a barbaria. Os sexos, além
disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar
num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por
conseguinte, gozar dos mesmos direitos” (questão 822 de O
Livro dos Espíritos, editora e edição antes indicadas, pág. 381).
Assim, ter jornada dupla é opção, é
escolha, talvez necessidade.
Afinal, somos dotados de
livre-arbítrio, que nos permite escolher, decidir, mas que também nos torna
responsáveis pela escolha, pela decisão, e naturalmente responsáveis por suas
consequências.
Por fim, nestas brevíssimas
considerações sobre assunto tão complexo quão extenso, vale a pena repetir,
para enfatizar, o que afirmou Léon Denis na última frase do trecho
aqui transcrito: “A mulher respeitada, honrada, de entendimento
esclarecido, é que faz a família forte e a sociedade grande, moral, unida!”
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