Pelo Espírito Neio Lucio. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Livro: Luz no Lar. Lição nº 27. Página 68.
Lembra-se do instante em que gritou fortemente, antes do almoço?
Por insignificante questão de vestuário, você pronunciou palavras feias
em voz alta, desrespeitando a paz doméstica.
Ah! Meu Filho, quantos males foram atraídos por seu gesto de cólera!...
A mamãe, muito aflita, correu para o interior, arrastando atenções de
toda a casa. Voltou-lhe a dor de cabeça e o coração tornou a descompassar-se.
As duas irmãs, que cuidavam da refeição, dirigiram-se precipitadamente
para o quarto, a fim de socorrê-la, e duas terças partes do almoço ficaram
inutilizadas.
Em razão das circunstâncias provocadas por sua irreflexão, o papai,
muito contrariado, foi compelido a esperar mais tempo em casa, chegando ao
serviço com grande atraso. Seu chefe não estava disposto a tolerar-lhe a falta
e recebeu-o com repreensão áspera.
Quem o visse, ereto e digno, a sofrer essa pena, em virtude da sua
leviandade, sentiria compaixão, porque você não passa de um jovem necessitado
de disciplina, e ele é um homem de bem, idoso e correto, que já venceu muitas
tempestades para amparar a família e defendê-la.
Humilhado, suportou as consequências de seu gesto impulsivo, por vários
dias, observado na oficina qual se fora um menino vadio e imprudente.
Os resultados de sua gritaria foram, porém, mais vastos.
A mãezinha piorou e o médico foi chamado. Medicamentos de alto preço,
trazidos às pressas, impuseram vertiginosa subida às despesas, e o papai não
conseguiu pagar todas as contas de armazém, farmácia e aluguel de casa.
Durante seis meses, toda a sua família lutou e solidarizou-se para
recompor a harmonia quebrada, desastradamente, por sua ira infantil.
Cento e oitenta dias de preocupações e trabalhos árduos, sacrifícios e
lágrimas!
Tudo porque você, incapaz de compreender a cooperação alheia, se pôs a
berrar, inconscientemente, recusando a roupa que lhe não agradava.
Pense na lição, Meu Filho, e não repita a experiência.
Todos estamos unidos, reciprocamente, através de laços que procedem dos
desígnios divinos. Ninguém se reúne ao acaso. Forças superiores impelem-nos uns
para os outros, de modo a aprendermos a ciência da felicidade, no amor e no
respeito mútuos.
O golpe do machado derruba a árvore de vez. A ventania destrói um ninho
de momento para o outro.
A ação impensada de um homem, todavia, é muito pior.
O grito de cólera é um raio mortífero, que penetra o círculo de pessoas
em que foi pronunciado e aí se demora, indefinidamente, provocando moléstias,
dificuldades e desgostos.
Por que não aprende a falar e a calar, a benefício de todos?
Ajude em vez de reclamar.
A cólera é força infernal que nos distancia da Paz Divina.
A própria guerra, que extermina milhões de criaturas, não é senão a ira
venenosa de alguns homens que se alastra, por muito tempo, ameaçando o mundo
inteiro.